
A aceitação do pedido de impeachment de Dilma Roussef pelo Eduardo Cunha, alvoroçou diversos espaços de discussão, sobre a possibilidade de considerar tal fato, como pretenso golpe organizado pela direita. Debates que ressoaram também nos setores reformistas e nos revolucionários. Obviamente, que de formas bem distintas.
Desde as eleições de 2014, problematizando a frase do anarquista Wayne Price (firmeza nos princípios, flexibilidade nas táticas), dentro dos espaços anarquistas, muito se viu de falta de firmeza nos princípios libertários/revolucionários e fluidez nas táticas. Fato evidenciado nos chamados votos críticos a Dilma em detrimento do projeto de direita apresentado pelo PSDB.
Passado quase um ano, onde observou-se (constatou-se) os mesmos acordos, os mesmos grupos negociando fatias de poder, onde mais uma vez o aparato do Estado enlaçado com o Capital não demonstrou nada de novo para os anarquistas organizados, eis que como uma cereja de um bolo tosco e mal feito, surge a problemática do impeachment. Ora, que caiam todos, poderíamos simplesmente dizer.
Há nessa conjuntura uma crise programática, de projeto, no Brasil. Os maiores movimentos de massas brasileiros têm uma dependência ao antigo projeto democrático popular que norteou o surgimento do PT e que embasa de forma direta ou não toda a esquerda reformista. O projeto democrático popular acredita que uma união de setores considerados “progressistas” de esquerda ao chegarem ao poder irão promover estatizações, reformas amplas (como agrária, urbana, na educação e na saúde) e ampliar princípios democráticos.
Mas na verdade vemos o que o PT para tentar pôr em prática seu programa político se aliou a direita e na verdade conseguiu pôr em prática um neoliberalismo dos mais sujos com políticas privatistas, redução dos direitos trabalhistas, incentivo ao genocídio de povos tradicionais e populações negras e pobres (não esqueçamos das UPPS), além de escândalos de corrupção e tantas outras patifarias.
Não diferente por migalhas ou as vezes nem por migalhas, mas por interesses políticos e privilégios, movimentos sociais ou melhor seus dirigentes, burocratizaram ainda mais as estruturas de luta, dificultando a articulação de lutas contra o estado e contra o capitalismo, como aparelhou-as como escudo de defesa dos interesses da elite (como fez a UNE, MST, CUT, movimentos de negros e negras e de mulheres por exemplo), o PT usou da velha desculpa de um projeto social democrata e traiu o povo. O pior de tudo é que outros setores da esquerda (reformistas, claro) continuam a utilizar discursos sociais-democratas para criarem uma nova forma de fazer política, como se fosse algo revolucionário como vemos setores do próprio governismo como a CONSULTA e outros “governistas críticos” como PSOL.
Esta realidade não possui nem um resquício embrionário do fogo da revolução. Porque não é num Congresso Encastelado que se faz a revolução; não é através do impeachment que perceberemos as barricadas se erguendo nas ruas. A nossa tarefa sempre foi construir as lutas de baixo pra cima e da periferia ao centro. Nenhum interesse, nenhum fractal de realidade das pessoas das quebradas, trabalhadoras e trabalhadores da cidade e do campo, “minorias” invisibilizadas se transformará por conta de tal fato.
Nós, anarquistas, devemos estar em plena ação com os movimentos sociais; e todas aqueles que se reivindicam revolucionários, deveriam também aprender com as lições trazidas da organização de estudantes em São Paulo; com Rojava, Chiapas e tantas outras experiências que dão exemplos nítidos de por onde podemos trilhar caminhos para transformação radical da sociedade. E como já dito, ela não se dará pelas vias da democracia representativa. Nunca será interesse de Estado algum, menos ainda do capital, que possamos alcançar a sociedade circular e horizontal, livre de opressão do homem pelo homem que tanto queremos.
Não vamos então adentrar na discussão sobre vai ter ou não vai ter golpe ou validade ou não validade de impeachment. Vamos mergulhar por completo na tarefa orgânica, com disciplina e responsabilidade, de provocar fissuras efetivas no Estado e começar de vez a construir o nosso futuro desejado. A briga entre os senhores nada mudará a realidade das oprimidas e oprimidos. Somente o poder distribuído entre todas e todos será capaz de provocar mudanças profundas na sociedade atual, pela ação direta, pelo federalismo e auto gestão.
Numa realidade e perspectiva para um futuro e para uma nova sociedade, há uma necessidade de ruptura com qualquer política ou pensamento governista e/ou pára-governista (grupos que não são governistas declarados, mas almejam estar no lugar do governismo), há uma necessidade de aproximação (que apesar das discordâncias, o momento pede união na perspectiva revolucionária, com responsabilidade) dos grupos marxistas (de diferentes vertentes que visem revolução social e não reformismos) como grupos anarquistas (bakuninistas e especifistas) para ampliarmos lutas conjuntas e solidificarmos um real programa político que a população desta nação acredite.
Viva o anarquismo!
Viva a revolução social!
Organização Anarquista Zabelê